Bolsonaro é ruim de Geografia

Bolsonaro é ruim de Geografia

Deputado de direita que defende a volta da ditadura militar diz que Itaipú seria uma arma que se destruída teria a capacidade de inundar áreas importantes da Argentina. Ignorando(!) que a Argentina fica do lado do Brasil (e seria inundado também).

Para o professor Luiz Pinguelli Rosa, diretor do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a construção da hidrelétrica de Itaipu visando seu eventual uso militar, com a possibilidade de inundar a Argentina numa guerra, “seria estupidez”. De acordo com ele, o rompimento da barreira também destruiria territórios brasileiros e paraguaios. Além de causar enorme prejuízo financeiro e estrutural para o País, uma vez que cerca de 25% da energia elétrica consumida no Brasil é proveniente da usina.

“Fazer Itaipu com intenção militar seria uma estupidez, um tiro no pé. Em primeiro lugar, há brasileiros por perto. Não há como atingir só a Argentina. Afetaria também o Brasil e o Paraguai. Em segundo, seria preciso destruir a barragem, pois mesmo abrindo todas as comportas não haveria volume de água suficiente para inundar as cidades. E destruir a barragem, além de enorme prejuízo econômico, também não seria fácil, nem com explosivos”, disse o professor.

Foto: Google MapsAmpliar

No detalhe, hidrelétrica de Itaipu. Na imagem, distância entre a usina e a capital da Argentina, Buenos Aires

A ideia do uso militar de Itaipu para inundar a Argentina foi ressuscitada pelo deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ). Em entrevista ao Poder Online, ele disse que a abertura de certos documentos do governo poderia revelar segredos com potencial de criar atritos entre países.

Funcionários da Usina de Itaipu ouvidos pelo iG, que não quiseram se identificar, também rechaçaram a possibilidade de uso bélico da usina. “Isso é uma bobagem que falavam na época da construção, havia tensão entre as duas ditaduras militares, a Argentina falava que seria uma bomba-hídrica, mas essa possibilidade não existe”, disse.

O Itamaraty nega a existência de tais documentos.

Acidente

No caso de um acidente em que a barragem fosse rompida, haveria prejuízos tanto para o Brasil quanto para o Paraguai e Argentina. De acordo com Pinguelli, contudo, não é possível prever a dimensão exata do dano que seria causado a cada uma das nações.

É certo que as cidades de Foz do Iguaçu e Ciudad del Este (Paraguai) seriam as primeiras afetadas por um tromba d’água que despencaria de cerca de 115 metros. A Ponte da Amizade, que liga o Brasil ao Paraguai ficaria submersa, havendo a possibilidade da água invadir o rio Iguaçu, que desemboca no rio Paraná e se chocar contra as cataratas.

Seguindo para a Argentina a correnteza perderia força devido à profunda da calha do Rio Paraná. Para se pensar em danos à capital Buenos Aires, seria preciso que, além de Itaipu, a barragem de Yaciretá, a 400 km da usina brasileira, também se rompesse. Como a planice abaixo da hidrelétrica, na fronteira entre Argentina e Paraguai, é alagável, poderia haver transbordamento do Rio da Prata.