Civilização sínica

A área dominada pela civilização sínica, ou chinesa, abrange além da China, alguns países vizinhos no continente asiático: Mongólia, Coreia do Norte, Coreia do Sul, Taiwan (Formosa), Hong Kong e, com menor intensidade, o sudeste Asiático.

 

A civilização chinesa, uma das mais antigas do mundo, desenvolveu um rico sistema de linguagem, especialmente a escrita, e filosofias com grande significado religioso, político e até ecológico. a escrita chinesa, baseada ideogramas, expandiu-se para amplas áreas da Ásia e chegou até o Japão. O idioma chinês abrange seis dialetos principais; o falante de um deles não consegue entender os outros. Mas a escrita os unifica, pois todos compreendem os ideogramas, mesmo que as palavras que eles significam variem bastante.

Mandarin - letras do alfabeto chinês. Fonte: institutomandarin.net

 

Ao longo dos milênios, a população chinesa, formada predominantemente por camponeses, teve de lutar contra um ambiente muitas vezes difícil e árido. A civilização chinesa foi a que mais desenvolveu sistemas de irrigação, transportando água dos rios para áreas longínquas com secas periódicas. É por isso que ela é chamada de "civilização hidráulica milenar".

Grande Canal da China ou Grande Canal de Jing-Han. Sua construção teve início no ano 604 pelo Imperador Yang Guang. Possui 1.794 quilômetros de comprimente. Fonte: portuguese.cri.cn

 

A cultura chinesa engloba três principais correntes de pensamento, que para o povo chinês não se excluem, mas se completam: o confucionismo, o taoísmo e o budismo - as três religiões (ou filosofias) que formam uma "única família", o Sankiao. O chinês típico em geral, é ao mesmo tempo budista, taoísta e confucionista (e algumas vezes até cristão). Isso sempre preocupou os missionários e agentes ocidentais na região, pois o Ocidente não existe o meio-termo e a possibilidade de ser e não ser ao mesmo tempo. Essa é uma diferença essencial entre a cultura chinesa, ou "oriental", e a ocidental. A própria ideia cultural do Oriente é uma invenção do Ocidente, pois há várias civilizações diferentes na Ásia, e os escritores que criaram a ideia de um Oriente único, misturavam tudo: a civilização chinesa com a hinduísta e a islâmica.
Vejam as principais características das correntes orientais:
Confucionismo

Deriva dos ensinamentos de Confúcio, do século V a.C. Prega uma série de regras éticas ou virtudes para as pessoas. Ele advoga um grande respeito às tradições e aos idosos, à família e à pátria, especialmente ao Estado. Valoriza bastante o ensino e apregoa que os sábios ou letrados, detentores do saber e também do poder, ocupem o primeiro lugar na sociedade.
 

Templo do confucionismo na China. Fonte: portuguese.cri.cn

 

O confucionismo foi e continua sendo fundamental para a organização da burocracia chines - a classe dirigente do país há milênios, mesmo depois da introdução da República (1911) e da Revolução Socialista de 1949. Essas mudanças na vida política oficial do país não alteram o fato básico de que a camada dominante sempre foi, e continua sendo, a elite burocrática que controla o Estado e o governo. No passado esses mandatários eram os mandarins; hoje são os membros privilegiados do Partido Comunista.
 

Mao Tsé-tung - líder chinês. Fonte: institutomandarin.net

 

Taoísmo

 

Fundado por Lao-tsé, no século V a.C., advém da palavra tao, que significa o caminho ou processo do universo, a ordem da natureza. O mundo é visto como um processo dinâmico e cíclico, com frequentes oposições de lados contrários que se complementam: o yin e o yang, ou seja, o feminino e o masculino, o intuitivo e o racional, o complexo e o simples, o receptivo e o expansivo, o repouso e o movimento.
 
 
Lao-tsé - fundador do Taoísmo. Fonte: wordpress.com
 
A vida, dizia Lao-tsé, é a harmonia combinada do yin e do yang, a busca do equilíbrio, mesmo que às vezes um dos dois lados prevaleça momentaneamente. A tradicional medicina chinesa, que usa a acupuntura, alimentação especial e outras técnicas muito diferentes da medicina ocidental, baseia-se numa imagem do corpo (em união com o espírito) que seria essa combinação dos elementos yin e yang.
 
 
Montanha Qingcheng, lugar sagrado do taoísmo na província de Sichuan. Fonte: mitologiasereligiões.com
 
Budismo
 
 
Chegou tardiamente à China, no século I d.C., vindo da Índia. O budismo chinês (e também o japonês) é diferente do primitivo budismo indiano, pois foi reelaborado no contato com a cultura chinesa. O fundamental no budismo é a ideia de "despertar" ou nirvana, um estágio de meditação profunda que conduz ao conhecimento último das coisas. Tudo é mutável, está em movimento, se transforma, dizia Buda. Não devemos nos apegar às coisas transitórias, a fatos e pessoas, nem ao próprio "eu", pois tudo seriam formas de ilusão.
 
Estátua de Buda em Macau - China. Fonte: cambetabangkokmacau.com

Nessa área tradicionalmente bastante povoada, a desvalorização do individualismo apregoado pelo budismo teve grande aceitação. O budismo enfatiza também as ideias de sofrimento - pobreza, dor, doença e morte -, com propostas consoladoras de renúncia e de possibilidade de alcançar a salvação, o nirvana.
 
Templo budista em Zen - China. Fonte: canstockphoto.com.br
 
  Assim, a civilização "oriental", valoriza muito a nação e o Estado, a família, a cultura (os letrados), a relatividade das coisas (tudo é transitório e tudo é aceitável, desde que na medida certa) e a história vista como ciclos, fases que vão ora numa direção, ora em outra.
  Também a solidariedade dos tradicionais clãs (grupos de famílias) com sua pátria de origem vem ajudando muito a atual expansão econômica da China. Isso porque os chineses que vivem no exterior - especialmente Taiwan, Cingapura, Malásia, Tailândia etc - criaram uma vasta rede de investimento nesse país, que vem sendo o de maior crescimento em todo o mundo desde os anos de 1990, e hoje já possui a segunda maior economia mundial, superando em 2010 a economia japonesa, e se persistir esse crescimento, nos próximos 15 anos já será a maior economia mundial.
Parque industrial em Pequim - China. Fonte: info.abril.com.br
 
  E a extrema valorização da escola e do professor, típica dessa cultura, muito ajudou na modernização não apenas da China, mas também de outras economias mais industrializadas, como o Japão, a Coreia do Sul, Cingapura, Taiwan, dentre outras. Esses países também incorporaram, em maior ou menor grau, elementos da civilização chinesa, especialmente o confucionismo. Em todos eles existe um forte nacionalismo e uma efetiva valorização da educação de boa qualidade para todas as pessoas.
 
 
Alunos em uma escola em Xangai - China. Fonte: noticias.bol.uol.com
Fonte: VESENTINI, José William Geografia: geografia geral e do Brasil, volume único. São Paulo: Ática, 2005.